Dentro dessa ótica, emergem inquietações referentes a construção identitária dos sujeitos pertencentes a esses espaços, sobretudo, a respeito da inserção de crianças nas comunidades afro religiosas. Tal reflexão surgiu a partir do meu estranhamento inicial em vislumbrar infância e terreiro juntos de modo harmonioso, quando tive os primeiros contatos com a presença das crianças nesse contexto. Propor essa conversa, também é buscar possíveis soluções para desmistificar crenças sobre as religiões de matriz africana e a inserção infantil nessa conjuntura. À vista disso, acredito que pensar a criança e suas vivências no terreiro é compreender tais experiências como agentes constitutivos de suas identidades. Imagino que esse esforço reflexivo possa se somar a outros, com o objetivo de fomentar uma Psicologia compromissada com discursões a partir de novos olhares, que dialoguem com identidades construídas em contextos diversos. Visto que, ao longo da trajetória dessa ciência, ela contribuiu para o fomento de ideias, que colaboraram para pensar aspectos ligados a cultura africana e afro-brasileira por um viés patológico. Por isso, enxergo a necessidade de uma prática profissional atenta e comprometida com o processo descolonizador.

Nesse ponto da análise penso ser importante trazer reflexões sobre o diálogo entre as políticas públicas e esses territórios ancestrais a partir da sistematização de pensamentos, que me auxiliam na construção de um chão teórico fundamentador da vinculação desta proposta de trabalho com a linha de pesquisa, “Estado Cultura e Políticas Públicas”.