A presente edição do Observatório Social e do Trabalho traz ao debate público o tema “Pobreza, (des) proteção social e auxílio emergencial em tempos da pandemia de Covid 19”. Como é sabido, a Covid-19 é doença sistêmica que se disseminou internacionalmente no âmbito da atual crise estrutural do capitalismo. No caso brasileiro, a conjunção da pandemia com os reflexos da crise, que pode impelir a economia para uma grande depressão, tem servido para apresentar, com mais clareza, diferentes aspectos da histórica desigualdade social presente no país, inclusive em sua expressão regional. Tal situação vem se agravando com a aprovação das reformas da Previdência Social, Trabalhista, a Lei da Terceirização para atividades-fim e a Emenda Constitucional nº 95, de 2016 que congela recursos para as chamadas áreas sociais. E, ainda, como lembra uma das entrevistadas dessa edição, também em decorrência das decisões tomadas, de forma unilateral, pelo atual Governo Federal, inclusive, mediante o desmantelamento institucional dos espaços de participação e controle social.    

Os dados e informações expostos nessa edição, tanto na seção “Em foco”, quanto as ponderações apresentadas pelas entrevistadas (seção “Atualidades”), representantes da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social (Maranhão) e a Secretária Municipal da Criança e da Assistência Social ( São Luís-MA), reforçam a ideia de que o cenário da pandemia de Covid-19, a despeito do esforço governamental de alguns estados e municípios, como o Maranhão e a capital, São Luís, expõe as fragilidades do Sistema de Proteção Social no país, especialmente, da Política de Assistência Social que jamais conseguiu financiamento adequada aos propósitos institucionais, embora seja operada no formato de sistema público, não contributivo, descentralizado e participativo, o Sistema Único de Assistência Social (SUAS).

As duas seções seguintes apontam vias para o adensamento dessa reflexão. Na seção ‘Informe bibliográfico” sugere-se a leitura de três livros. O primeiro denomina-se “Capitalismo e a Covid-19: um debate urgente” e se compõe de textos organizados por Daniel Castro, Danillo Dal Seno e Marcio Pochmann; o segundo é “Coronavírus e a luta de classes”, composto por trabalhos de seis pesquisadores: Mike Davis, David Harvey, Alain Bihr, Raúl Zibechi, Alain Badiou e Slavoj Žižek; e o terceiro chama-se “A Cruel Pedagogia do Vírus” de autoria de Boaventura de Sousa Santos. Na seção “Eventos” informa-se sobre o III Simpósio Internacional sobre Estado, Sociedade e Políticas Públicas (III SINESPP) promovido pelo Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas da Universidade Federal do Piauí, cujo tema central é “Democracia, desigualdades sociais e políticas públicas no capitalismo contemporâneo”, a ser realizado no período de 21 a 25 de outubro de 2020.

                  Boa leitura!

             Profa. Dra. Salviana de Maria Pastor Santos Sousa

                                 Editora Adjunta

 

POBREZA, (DES) PROTEÇÃO SOCIAL E AUXÍLIO EMERGENCIAL EM TEMPOS DA PANDEMIA DE COVID-19

A Covid 19, enfermidade sistêmica causada pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2), se espraiou ao redor do mundo no contexto de uma crise estrutural do capitalismo que se reflete em todas as dimensões da vida social, com mudanças importantes no mundo do trabalho e da produção.[1] No Brasil, expõe, ainda mais, as desigualdades sociais preexistentes, inclusive em sua dimensão regional, situação que se vem agravando com a aprovação das reformas da Previdência Social, Trabalhista, a Lei da Terceirização para atividades-fim e a Emenda Constitucional nº 95, de 2016 que congela por 20 anos os investimentos em áreas sociais.

Na composição desse processo de desigualdade social, há um enorme contingente de pessoas em situação de pobreza que representava 25,0% da população do Brasil, 49,5% do Nordeste e 56,1% do Maranhão[2], no mês de março de 2020, período de maior disseminação da pandemia de Covid19 no Brasil.

Para minorar essa situação, considerando a redução das atividades que geram trabalho no país, foi aprovada a Lei 13.982, de 02 de abril de 2020 que instituiu a concessão de Auxílio Emergencial aos trabalhadores sem emprego formal; aos que não auferem benefício previdenciário ou assistencial, seguro-desemprego ou outro programa de transferência de renda federal, exceto o Bolsa Família; aos que contam com renda familiar mensal per capita de, até, meio salário mínimo ou renda familiar mensal total  de, até, três salários mínimos e que não tenham recebido rendimentos tributáveis, no ano de 2018, acima de R$ 28.559,70.....

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[1] Para ampliar a discussão, conferir Löwy (2015) e  Santos (2020).

[2] Carvalho e Carvalho, a partir de dados do IBGE e do MC (2020)

 

SOBRE POBREZA, (DES) PROTEÇÃO SOCIAL E AUXÍLIO EMERGENCIAL EM TEMPOS DA PANDEMIA DE COVID-19.Entrevista realizada por Maria do Socorro Araújo[1] e Cleonice Correia Araújo[2] com Margarete Cutrim Vieira[3] e Andreia Carla Santana Everton Lauande[4]  

Cleonice Correia Araújo e Maria do Socorro Araújo

            A atual fase do capitalismo - versão do modelo rentista-neoextrativista, de cunho ultraliberal, com  desigualdades econômicas e sociais, amplamente explicitadas e em alguns casos, agravadas pela pandemia da Covid-19 - expõe um processo de desproteção social que, no Brasil, é acirrado com a redução do financiamento da Seguridade Social, particularmente, após o golpe de 2016, impactando políticas públicas como a Assistência Social. Frente a essa constatação,

  • quais desafios e questões vêm sendo enfrentadas pela Política de Assistência, no período 2016/2020, no Maranhão, no Nordeste e no Brasil, particularmente, no contexto da pandemia da Covid 19?

 

Margarete Cutrim Vieira

                 Para situarmos o quadro atual de desfinanciamento da Política de Assistência Social, pelo governo federal, e os seus rebatimentos em todos os Estados, no Distrito Federal e nos municípios brasileiros, queremos, inicialmente, destacar que até 1988 a Proteção Social no Brasil, esteve baseada exclusivamente na concepção de seguro social, isto é, de direito à proteção a quem contribui com parcelas do rendimento advindo do trabalho. Somente a partir da Constituição Federal de 1988 foi possível expandir esse universo protetivo, com a construção da proteção social não contributiva, direito do cidadão e dever do Estado diante do conjunto de desproteções sociais.

 

[1] Doutora em Políticas Públicas pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Professora do Departamento de Serviço Social Universidade e do Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas da UFMA. Pesquisadora do Grupo de Avaliação e Estudo da Pobreza e de Políticas Direcionadas à Pobreza (GAEPP).

[2] Doutora em Políticas Públicas pela Universidade Federal do Maranhão; Professora do Departamento de Serviço Social da mesma Universidade. Pesquisadora do Grupo de Avaliação e Estudo da Pobreza e de Políticas Direcionadas à Pobreza (GAEPP).

[3] Mestre em Políticas Públicas pela Universidade Federal do Maranhão. Secretária Adjunta de Assistência Social da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social /SEDES/MA.

[4] Mestre em Políticas Públicas pela Universidade Federal do Maranhão. Secretária Municipal de Assistência Social da Secretaria Municipal da Criança e da Assistência Social – SEMCAS...

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Sugerimos a participação dos leitores no III Simpósio Internacional sobre Estado, Sociedade e Políticas Públicas- SINESPP. Com o Tema Central “Democracia, desigualdades sociais e políticas públicas no capitalismo contemporâneo”, o evento, a ser desenvolvido por via on line, no período de 21 a 25 de outubro de 2020, é promovido pelo Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas da Universidade Federal do Piauí. Sua ampla programação e os expositores convidados podem ser acessados pelo endereço https://sinespp.ufpi.br/.

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No contexto da produção bibliográfica relacionada ao tema do Boletim, recomendamos para leitura os seguintes livros:

1 Capitalismo e a Covid-19: um debate urgente. Disponível para download gratuito no formato PDF, é uma compilação de textos organizada por Daniel Castro, Danillo Dal Seno e Marcio Pochmann.- São Paulo: 2020 .Tem como substrato a ideia de que a COVID-19 leva a refletir, além das questões imediatas que relacionam, de forma estreita, as questões da vida e da morte, o tipo de desenvolvimento socioeconômico que o mundo quer para si. São ponderações que precisam ser compartilhadas e compreendidas pela sociedade como um todo, pois que, no centro deste debate, está o a essência mesma do ser humano.

Capitalismo e a Covid 19

2 Coronavírus e a luta de classes. Trata-se de livro publicado pela Editora Terra Sem Amos, que compila textos elaborados por seis pesquisadores que formam um campo crítico do pensamento social dedicado a analisar e transformar a realidade existente. São eles: Mike Davis, David Harvey, Alain Bihr, Raúl Zibechi, Alain Badiou e Slavoj Žižek.

Corona virus e a Luta de Crasses

 

3 A Cruel Pedagogia do Vírus, tem o selo da Editora Boitempo e é um trabalho desenvolvido pelo sociólogo português Boaventura de Sousa Santos. Compõe-se de textos curtos, objetivas, que refletem acerca da crise atual provocada pela disseminação do novo coronavírus e suas repercussões sociais, psicológicas e econômicas.

A C ruel Pedagogia do Vrus

 

 

 

expediente

Editora Geral: Profa. Dra. Maria Ozanira da Silva e Silva
Editora Adjunta - Boletim Ano 9, nº 2 Profa. Dra. Salviana de Maria Pastor Santos Sousa
Projeto Gráfico e Diagramação: Saulo Simões
Publicação bimensal
Os textos publicados são de responsabilidade dos autores.

expediente (2)

Editora Geral: Profa. Dra. Maria Ozanira da Silva e Silva
Editora Adjunta - Boletim Ano 9, nº 2 Profa. Dra. Salviana de Maria Pastor Santos Sousa
Projeto Gráfico e Diagramação: Saulo Simões
Publicação bimensal
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