Marcia Fabiane dos Santos Nascimento[1]
Maria do Socorro Sousa de Araújo[2]
1 INTRODUÇÃO
A existência da população em situação de rua é um fenômeno antigo e multifacetado, que na contemporaneidade é explicado pelas profundas transformações ocasionadas pelo capitalismo, com a constituição intensa e contínua de uma superpopulação relativa ou exército industrial de reserva[3].
No Brasil, essa violenta expressão da questão social fica ainda mais acentuada no contexto atual de crise do capitalismo e da configuração de uma dupla pandemia: a do bolsonarismo e a da Covid-19 (SANTOS, 2020).
O país vivencia uma barbárie que se expressa, particularmente, no desmantelamento dos direitos sociais e trabalhistas, no desmonte da Seguridade Social, que repercutem no aumento da pobreza extrema, da fome, do desemprego, do subemprego e no acréscimo expressivo da população em situação de rua, em meio à infecção e morte massivas em decorrência da pandemia da Covid-19.
Nessa conjuntura do Brasil atual, destacamos a questão da população em situação de rua que nem mesmo é recenseada, que aumentou consideravelmente no contexto da dupla pandemia e que não conta com aparatos suficientes no enfrentamento da doença, apesar de constituir-se um dos grupos populacionais mais vulneráveis à contaminação e ao óbito.
A população não domiciliada abarca um número crescente no país, particularmente no contexto da pandemia da Covid-19. Segundo recente estudo, essa população aumentou 140% de 2012 a março de 2020, chegando a cerca de 222 mil pessoas nesse último ano (NATALINO, 2020).
[1] Assistente Social/UFMA. Pós-Graduanda, cursando Especialização em Saúde Pública e Assistência Social/Faculdade Venda Nova do Imigrante (EAD)
[2] Assistente Social/UFMA. Doutora e Mestre em Políticas Públicas/UFMA. Pós-doutoramento em sociologia pela UFC. Professora lotada no Departamento de Serviço Social/UFMA, com exercício no Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas e no Curso de Graduação em Serviço Social/UFMA.
[3] Para Marx (1988), a superpopulação relativa ou exército industrial de reserva é a expansiva massa sobrante/excedente, descartada pela produção capitalista.